sábado, 23 de fevereiro de 2013

Abraça-te

Entre pela porta e abrace o ar oco.
Abrace o que deseja,
Ainda que seja apenas o que desejas.
Ainda que seja apenas a fantasia
Que criastes para fugir da realidade vazia.

Abrace o vento e seus pensamentos.
Abrace a brisa , as gotas de chuvas,
Os raios de sol, o brilho das estrelas.
Abrace as pétalas e borboletas.

Abrace as perdas, as conquistas
E cada momento que tornou-te quem és.

Abrace o que parece impossível para muitos.
A vida é para aqueles que sonham, acreditam e buscam.

Abraça-te e o mundo – o teu mundo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Eclosão da Alma

O que esperar de mim?
Ter um título, um melhor salário,
Casar e ter filhos?
Ser reconhecido?
Mas não sou alguém?

Entre tantos sonhos, sonhei que um dia poderia
Ser eu. Não aos olhos do mundo,
Mas aos olhos que me ver.
Estarei eu me vendo? Vou sendo, sem saber o quê.

Eis o mendigo da praça que bebe para suportar o frio,
O dono do bar com seu semblante triste e vazio,
O lixeiro que rir para esconder a dor, as prostitutas
Que tiram a solidão dos homens casados, os loucos
Que vivem a realidade do seu mundo.
E assim vão se fazendo e se criando.
Ser é ser no tempo. Estou sendo?
Não sou nada. Não se pode ser nada.

Tenho tantos desejos e não tenho tempo.
É meia noite. Terei mil e uma noites...
Em mim estão todos os segredos do mundo.

Seria feliz se fosse um matuto
Ou se amasse a garota que vende flores na praia?
Talvez. Quem seria eu se não fosse eu?
Tenho em mim tantos sonhos e apenas uma vida.
Há em mim o que é inacessível aos olhos
E quem me ver perde-se no que não sou.

Não sou nada. Perdi-me há tantos pensamentos.
Essa noite estou perplexo, como quem procura o que nunca
Perdeu. Estou hoje dividido entre a felicidade e a tristeza,
Entre a neutralidade oca e assustadora da meia noite. Sinto o pesar
Da aurora da madrugada, da brisa fria entrando pela minha janela,
Dos meus versos fúteis e desse poema inútil. Tudo irá morrer,
Assim como esse poema e quem o escreveu.

Tudo que aprendi foi em vão.
Ensinaram-me a ler e escrever. Mas como aprender a ser?
Sou o que fizeram de mim ou o que fiz de mim?
Fiz de mim o que não queria e me perdi em desejos alheios.
Derramei todas as lágrimas sozinho. E sozinho suportei todas as angústias
Do mundo e carreguei todas as dores de milhões de corações.

Sinto o quanto errei até agora.
Sou quase o avesso do que esperei de mim.
Tomo mais uma taça de vinho e penso no que aprendi.
O que me ensinaram na infância roubou-me a esperança.
Quero água para matar a sede, descerei até o poço para bebê-la,
E em sua escuridão ficarei um tempo sozinho até saciar-me.

Estou essa noite cansado e perdido. Não quero saber a verdade de nada.
Não procuro nem um sentido,
Até porque não há sentido em procurar sentido.
O que escrevo é a realidade do que sinto ou a realidade do mundo?
Há mais vida em mim ou em um mendigo, ou algum louco?
Há tantos loucos lúcidos em suas realidades.

Hoje não queria ser eu.
Talvez nunca quisesse ter sido eu.
Hoje em meu quarto sinto a solidão em qualquer intervalo
Entre espaços e em todos os objetos.

(Beba! Beba todo o vinho do cálice. E beba também o meu sangue.
Queria ter tua coragem cega de seguir uma crença. Queria acreditar
Que os que desistiram foi por covardia ou por falta de fé. Queria desistir
Como desistisses dos que desistiram.
E peço-te doce amada: beba todo o vinho do teu cálice e beba todo teu sangue,
Pois só assim poderás ser tu. Bebas tua verdade.)

Estou perdendo a fé que nunca tive.
Abracei tantos mendigos quanto Cristo,
Meditei tanto quanto Buda,
E fiz de mim meu próprio inferno.
Sinto falta da criança que fui um dia
E inveja de tantos outros por não seu eu.

Agora resta-me o amargo pesar do que nunca fui
E que jamais serei.
Resta-me o que ficou perdido no tempo
E que jamais encontrarei, ainda que haja em mim.
Já não sou mais eu. E ainda que meu corpo refletido no espelho
Diga o contrário, sei que não sou mais eu. Não consigo ser eu.
Mas quem sou? Sou o que penso e o que sinto?
Mas penso tantas coisas e há tantos sentimentos opostos em mim.

... Um dia sonhei que havia tantos em mim
Que meu corpo sentou, gritou e depois dormiu na eternidade.