sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Nostalgia

Estava a caminho.
Agora paro no meio da estrada.
olho a pedra,
que não é nada sem o homem.
Vejo as flores,
que sem meus olhos
não teriam cores.

O vento leva o resto
que ficou de mim.
Agora sou apenas um ente
que sentou na pedra crespa e sem cor.
Agora sou pedra sem o homem
e flores sem cor.
O que restou?
O que sempre fui e sempre serei: Nada.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Outro de Mim

Quem me amaria se fosse eu?
Quem me amaria se no reflexo
Do espelho refletisse o outro de mim?
Tocar-me-ia se em minha face
Encontra-se tua face.
Teu amor por mim seria amor por ti.

Amar-me-ia se fosse outro?
E se fosse outro amaria a mim?
Olha-me e segura minhas mãos.
Não! Olhe para ti.
Sou veia e você artéria.
Somos um só coração.

Seria eu sem ti?
Entre lágrimas e risos,
Paz e conflitos,
Irei um dia me encontrar?
Amar ou odiar? Somos inerentes.

Sou ente, você é ser.
Expelir ou esquecer?
Gritar ou silenciar a dor?
Não gritamos com amor?

Sou silêncio, você é grito.
Você é palavra viva
Enquanto eu... Vivo?
Que o outro de mim
Dê-me a paz que tanto preciso.

Não! Não me deixe só.
Não serei eu só.

Quem está escrevendo agora?
Eu? O outro de mim?
Ou o intervalo entre ambos?
Somos tantos...

Estou tentando pegar o vento com as mãos

Há tantos entes vagando
Com suas almas incógnitas de si mesmo.
Nas ruas muitos becos e esquinas
Dando vários caminhos e incertezas.
Há tanto medo e desprezo em seus olhos.
Fútil e medíocre são suas ciências baratas,
Não há só uma que não me mata.
Odeio quem diz: Essa é a única verdade.
Sim! A verdade mata ao que chamamos de verdade.
As ciências são ciências em si mesmas.
E eu, quem sou?
Quem ou o que me dirá quem sou?

Há tanta gente nas praças e ruas gritando
E suplicando por um pedaço de vida.
Há tantas etiquetas e marcas ao invés de nomes.
Sou normal? Não sei. Mas tenho todo
[o direito de não sê-lo.
Pessoas iguais e normais roubam-me a vida.
Sim! Sei que todos têm o direito de serem
iguais e normais,
Assim como tenho o direito de não ser.
Ai, ai! Ser diferente é sufocante,
Há um grande preço a se pagar,
E essa angústia existencial... Ah, essa angústia.

Há tantos mendigando amor.
Enjôo-me só de pensar em tal
Fraqueza e egoísmo alheio.
O amor platônico é tão só,
Que de tão só é verdadeiro.
Céus! Volto a falar de verdade,
Como se a soubesse, como se soubesse
[o que é o amor. O que é o amor?
Melhor voltar ao silêncio de mim,
E tentar parar de pensar no que penso agora.

Há tantos mortos nas ruas
acelerando seus carros de luxo,
Gritando na bolsa de valores,
Brigando no trânsito, nos jogos de futebol.
Há tantos jovens-velhos formando-se nas universidades.
[SÃO TODOS IGUAIS! FORMAS DE FORMATURA!
Ouviram? FORMAS DE FORMATURA!
E eu, aqui, em meu quarto, só.
Só, como todos estão sós.
Acho que a solidão gosta de mim.
Mas só estou eu e ti, e todos.
A solidão é uma questão de escolha,
Principalmente para aqueles que
Tem medo de se ferir.
Não tenho medo de me ferir, pois a própria
[felicidade, às vezes, me fere.
A felicidade é uma causalidade
E o sofrimento é a angústia opcional
De deixar-se ser.
Não tenho medo.
Não tenho medo do espontâneo.

Há tantas pessoas rindo e fingindo
E em seus olhos uma tristeza indizível.
Há tantas lágrimas não vistas,
Tantos amores não vividos.
Há tantos estranhos nas famílias,
Tantas crianças esquecidas.
A infância depois de tanto tempo
Volta a tornar-se adulta.

Há tantos nas ruas e praças
[com suas máscaras.
E eu, aqui, só, escrevendo.
Não quero mudar nada.
NADA jamais mudou nada.
Sou só mais um preguiçoso de plantão,
Sentado e escrevendo em vão.
Escrevendo em vão?
Estou tentando pegar o vento com as mãos...
Só eu sou capaz disso, e só.

O sono veio, enfim, como a primavera
E suas flores e borboletas.
Enfim, agora posso dormir e fingir não existir.
Agora posso descansar minha alma
E meu coração enquanto estou morto.
Amanhã ao renascer não serei mais quem sou.
Amanhã serei outro que nascerá de mim.
Não sei até quando continuarei a sê-lo.
Renasço a cada instante, a cada novo dia...
Se não morresse constantemente
[morreria para sempre.
Não aguentaria ser sempre eu,
Ser sempre o mesmo.
Morrer é minha suprema salvação de ser.

Há tantos fazendo sexo no escuro.
Há tantos sentindo a falta de alguém.
E eu, aqui, só, escrevendo.
E eu, aqui, só... E a ausência.
Ah, o amor, essa raposa que passeia
Nos dias de sol e chuva.
O arco-íris abraça o rio como uma aliança,
Como um casal recém casado,
Mas logo em seguida como uma nuvem
Desaparece pelo ávido sopro do vento.
Ah, o amor, essa coisa que nos pega se surpresa.
Ah, o amor...
Enfim, o sono veio, como uma borboleta
Avisando a aurora da primavera
Depois de uma tempestade.
Agora posso dormir e fingir não existir.
Existir é apenas estar vivo?

Estou tentando pegar o vento com as mãos...

Ímpeto

Nada irá mudar.
Ficarei sempre na espera.
Nesse deserto oco e vazio
Que é uma folha virgem.

Nada irá mudar,
Ainda que as palavras ganhem vida.
Ainda que meu grito ecoe ao mundo,
Tudo é solidão e um silêncio oculto.

Nada ira mudar.
É só mais uma forma de desabrochar,
Só mais um anjo com asas feridas
Lamentando por não voar.

Lamúria, melancolia, desertos,
Vulcões, solidão.
Escrever é abraçar o vento
E voltar ao momento da criação.

Quero ver uma borboleta voando
Ou uma pétala de rosas flutuando.
Quero ver a liberdade fluindo
De todos os cantos.

Não. Nada irá mudar.
Meu coração está cansado de sangrar.
Minha alma precisa descansar.
Quero ver borboletas e rosas
Colorindo o ar.

Quero tocar o ímpeto desse instante
E sentir na atmosfera uma explosão de vida.
Quero que meu coração
Continue pulsando e oxigenando
O coração do mundo... De todo o mundo.

Amo-te

Amo-te sem egoísmos, sem desculpas.
Amo-te com toda liberdade de amar
Amo-te sem máscaras, sem pudor.
Amo-te com toda transparência do amor.
Amo-te como se ama um sonho,
Quando fecho os olhos contigo estou.
Amo-te sem segredos,
Teus beijos são os meus.
Amo-te sem preconceitos,
Sem medo, sem desejos.
Amo-te, simplesmente.

Amo-te com toda minha alma
O amor não está em gestos ou palavras.
Amo-te em cada bater de asas
De uma borboleta que estás longe de casa.

Amo-te em cada pulsar do meu coração,
E mesmo que um dia não mais pulse,
Ainda assim irei amar-te.
Amo-te, não sei como ou por quê.
Amo-te, unicamente.
Amo-te, porque somos duas almas
Oxigenando um só coração.

A Fé Que Matou Deus

Se Deus está vivo
Que digam os mendigos,
Os trabalhadores honestos
Que ao fim da vida morrem de fome,
Os homens sem nome
Que não saem nas capas de revistas,
Mas mortos em jornais lidos pela mídia.

Cristãos e devotos de fé.
Sua fé é a morte de Deus.
Que digam os famintos
Que roubam para comer,
E ficam presos anos a fio
Entre quatro paredes
Tentando esquecer.

O que falaram os políticos
Que andam livres e imunes
Quando os plebeus lutarem
Pelo o que é seu?
E os donos de banco,
São honestos como
Os camelôs da esquina?
Que digam suas vítimas.
Se tudo que acontece no mundo
É por vontade de Deus:
Que Deus esteja realmente morto.
Para que Deus
Se não o vemos no outro?

Assusto-me quando
Escuto alguém dizer:
“Graças a Deus meu filho sobreviveu”
E Graças a Deus o outro morreu.
Ínfimos fiéis infiéis.
Carreguem sua cruz
E beijam seus pés.

Se tudo que acontece
É por vontade de Deus,
Que não seja de Sua vontade
O pesar do povo do Sudão.
As crianças abandonadas,
As guerras, os homicídios,
E o sombrio passado
Da Santa Inquisição
E se for mesmo de sua vontade.
Juro! Prefiro Deus morto.

Que não seja de sua vontade
Essa dor em meu coração.
Não. Não vou culpar Deus,
O coração é meu.

Perdoai os pecados de Deus.
Não! Perdoai os pecados
Com o que fizeram de Deus.
Perdoai uns aos outros.
Que Deus descanse um pouco.

A Morte do Tempo

Em seus olhos vejo a morte do tempo,
Gritando intensamente.
Vi o inferno da aurora da morte...
Talvez o alívio de em breve não mais ser.

A tristeza que não se diz,
Que não se mostra ao ver.
A voz rouca e cansada,
O corpo curvado,
A fraqueza que parece dizer: ACABOU!
Mas em sua mente um grande mistério
Que não se ver.

O que será a velhice?
O que mais dói e faz falta?
Serei um dia a velhice que me assusta?
Se o for, espero continuar vivo enquanto sê-lo.

Eu e Meu Cadáver

Entre uma aurora e outra surgiu-me
Uma nova verdade.
Essa manhã em que admiro
Profundamente a natureza
E tudo que está vivo.
Essa manhã em que namoro
Tudo que sinto.
Essa manhã que é só minha.
Essa manhã vazia.

Hoje penso só,
Entre árvores e animais.
Hoje estou entre meus iguais.
Não! Não estou só,
Estou só e comigo.
Estou com o outro de mim.
Meu cadáver está apenas dormindo.

Na solidão da floresta eu sou eu.
Sou tudo que se perdeu
E tudo que virá.
Mas agora sou o intervalo entre ambos.
Agora sou mágica,
Poesia e encanto.
Nessa manhã tudo está vivo.
Dos meus pensamentos mais ínfimos
Aos meus devaneios cognitivos.
Hoje a solidão é salvação.
Hoje posso ver o mundo,
Sentir a vida,
E ser quem realmente sou.
Hoje a brisa acaricia meu rosto,
O tempo me abraça.
Hoje a vida é minha amada.

Hoje não quero voltar para a cidade.
Só por hoje me deixa ser quem sou.
Só por hoje não sou cadáver.

Entre uma aurora e outra
Surgiu-me uma nova verdade.
E em mim está a verdade.

O Que Serei Quando Não Mais Ser

Entre tantas coisas infindas
Sou findo.
Graças... Sou findo.
Findo como as horas,
Como os dias,
Como os anos.

Entre tantas coisas findas
Meu amor é infindo.
O que está em mim é infindo.
Infindo como o tempo,
Como palavras interditas.

Entre tantas coisas infindas
Sou findo.
Findo como as verdades,
Como os entes,
Como as tempestades,
Como o presente.

Entre tantas coisas findas
O desconhecido de mim é infindo.
Infindo como o universo,
Como os versos.

Entre tantas coisas findas e infindas,
O que serei quando não mais ser?
Coisa finda?
Coisa infinda?
O que importa?
Serei o que era antes de nascer.

Bola de Sabão

Solta no tempo
Sem passado ou futuro.
Presente, nada mais.
Sem tempo, sem mais.

No tempo
Levada pelo vento
Solta no ar
Efêmera a voar

Mistério intangível
Matéria invisível
Atmosfera presa a se dissipar
Límpida solta ao ar

Solta ao vento
Livre no tempo
Sem viver ou morrer
Existir... Sem entender ou compreender.

Além da superfície de mim

Olhe em mim, só por uma vez.
Olhe dentro de mim,
Mas não olhe com os olhos.
Olhe o que não ver,
O que não está na superfície.
Olhe com amor,
E o que em ti ainda vive.

Já não sei mais quem sou
Ou o que sentir.
Céus! Onde estou?
Não estou aqui.
Não aguento mais viver sem mim.

Meu coração sangra
E adoece todo meu corpo.
O sangue também está em meu rosto.
Não ver? Não! Não há lágrimas.
Há apenas meu rosto
E o olhar que vem do mais profundo da alma.

Estou gritando
Estou suplicando.
Não escuta? Não! Não há gritos.
Mais um que escuta
Apenas com os ouvidos.

Oh, Deus! O que estou falando?
Para quem estou falando?
Estou criando alguém?
Não! Não estou falando para ninguém.
Não estou tentando criar,
Estou tentando matar.

Tenho medo.
Queria segurar tuas mãos
Só por um momento.
Só para não sentir-me só.
Depois te deixaria partir.
Seria só um instante de segundos,
Só para te dizer: eu te amo!

Não te amo porque preciso de ti.
Preciso de ti porque te amo.
Mas por te amar me afastarei.
Por te amar continuarei só.
Sinto muito por te dar minha dor.

Mas tudo que te peço é que me perdoe,
Pois te amo tanto
Que não sei amar.
O que me resta agora
É um silencio que me paralisa
E que me rouba a vida.
Um silêncio que há qualquer momento
Explodirá em lágrimas.
Um silêncio que grita
Em mim para mim.

Resta-me agora o lamento
E o teu silêncio.
Ah, mas o teu silêncio.
O teu silêncio é o meu silêncio.

Resta-me agora a esperança
De tudo que sonhava
E que ainda está em mim.
A esperança que me faz existir.

Sinto muito se não soube dar amor.
Sinto muito se não soube amar,
Se não soube deixar-te ser,
Se não soube ver.

Já fui outro que está aprisionado
Dentro de mim.
Mas não consigo liberta-me só.
Estou só em mim e no mundo.

O outro de mim ainda está vivo.
Juro! Sinto que ainda estou vivo.
Suplico! Salva-me de mim.
Ajuda-me a coexistir.

Há uma mina em meu coração,
E a cada passo errado
Uma nova explosão.
Não te peço que me ame,
Mas que apenas sinta-me,
Ainda que distante.
O amor está explodindo dentro de mim.
E esse amor não liberta-se.
Esse amor sufoca-me.

Oh! Resta-me agora
Apenas a saudade de tudo que sonhei.
Oh, sonho meu...
Oh, sonho em si...
Perdoe-me.
Não esqueça que te amo.
Às vezes nos perdemos ainda mais
Quando precisamos nos encontrar.

O silêncio é meu pudor,
Minha fraqueza, minha dor.
Meu silêncio é o pulsar de um coração
Que está cansado.

Guerra dos Mortos

Súplicas já não são mais ouvidas
Lágrimas não mais irrigam.
O corpo ainda sustenta,
Pois nas almas não há mais vidas.
As crianças gritam:
– Parem! Não, por favor!

Pedaços de corpos flutuam em nossas mentes.
E mesmo fechados
Os olhos continuam a visualizar
Os momentos de terror,
A imoralidade de dementes.
Alguns idolatrados como se fossem deuses.
A insanidade aceita pela sociedade.
Espectros matando futuros espectros,
E nossas mulheres estupradas e mortas.
Enquanto nosso coração sangra,
Tranquem as portas.

O sol não é o mesmo em nosso país.
O tempo está sempre nublado
E as nuvens carregadas.
Sabemos que a qualquer
Momento irá chover sangue.
Quantos? Quantas crianças?
Estamos distantes?
Quantos corpos ainda terão de queimar?
E quando não tiverem mais a quem matar?

O mundo tem o cheiro da morte.
Acabaram as flores,
Foram substituídas por diamantes sem cores.
Os pássaros sucumbiram,
Seus cantos foram substituídos
Por cada bala que saia da culatra
E voava nossos ares insípidos.

O céu tornou-se negro,
Coberto por cortinas de fumaça e desespero.
Mãos, pés... Todos os pedaços encontrados no telhado.
É a guerra do amor a pátria...
Do amor a pátria?
Estou estupefato,
Não morrerei por minha pátria
Não lutarei enquanto outros tomam vinho
E comemoram cada explosão e mutilamento.
– Façam a montanha de corpos e soltem os fogos!

Oh, céus! Ainda falam de inferno após a morte,
Como se não bastasse o abandono de Deus
E o holocausto multiforme.
Onde está Deus?
Está no meio dos refugiados,
No próximo caminhão a ser executado.
Bombardearam nossa esperança,
Nosso ultimo refúgio.
É hora de enfeitar os túmulos.

Perdoe-me por ser apenas uma criança.

A Lágrima Que Não Caiu

Quando te vi chorar não resistir.
Precisava beijar-lhe.
Senti que ainda precisaria existir.

O castanho dos seus olhos era tenro.
Sim. Seus olhos agora já não tinham mais cor,
Seu olhar era a culminância do amor.
Latente e intenso.

Foi uma lágrima que não caiu,
Que transformou sua face em espelho.
Toda minha angústia sucumbiu,
E já não sentia mais medo.

Quando lhe vi chorar não resistir.
Seus olhos lacrimejados não estavam em ti,
E tua lágrima não eram lágrimas, era a lágrima.
Mas tua lágrima... Ah! Tua lágrima não caiu.
E por não cair continuei a amar-te.

Fugir ou deixar-me ser?

Estou tentando parar.
Tentando esconder tudo.
Estou tentando me deixar longe,
Fora de tudo.
Fora de mim mesmo.

Estou tentando esquecer o que já fui
Tentando esquecer o que sou
Tentando fingir que não sou.
Estou buscando alguma
forma de me esconder.
De fugir... de me perder...
Estou tentando esquecer.
Estou tentando me encontrar.
Mas quem serei quando parar?

E as palavras? O caminhar dos dedos?
As páginas em branco?
E o tempo quando tento parar o tempo?
Os pensamentos que atormentam?
E os sonhos, segredos e medos?
Os sentimentos? O que sinto e penso?
E os gritos abafados pelo silêncio?

Estou tentando parar,
Como se parar fosse me salvar.
Como se parar fosse me levar
De volta ao ventre materno.

Estou tentando parar.
Mas quem serei quando parar?
Serão as últimas palavras?
As últimas linhas?
As últimas folhas em branco?
O último suspiro do que fui?
O último suspiro do que me transformei?
Ainda sou? Continuarei a ser?

Estou tentando morrer.
Estou tentando viver.
Mas como morrer em palavras?
Como viver em palavras?

Estou tentando parar.
Estou tentando... Viver.

O Tempo Está Me Comendo

Já não sei se é dia ou noite.
Já não sei que horas são.
Será que o tempo está me furtando?
Será que o tempo está me dando à mão?
Será que o tempo está gritando em mim?
Será que o tempo está me dando tempo?

Já não escuto a música silente da aurora.
Já não vejo o desabrochar das flores.
A vida já não tem cores.
Será que o tempo está me dando tempo?
O tempo está cortando meu rosto
Com uma navalha.
O tempo olha para mim cara a cara,
Olha para mim com raiva.
O tempo está me comendo.
O tempo está me dando tempo.
E há tempo perco o tempo.

O tempo grita de mim para mim.
E há tempo estou mudo,
Cego e surdo.
Há tempo vivo em palavras.
Há tempo sou tudo e nada.
Há tempo vivo em silêncio,
Medo, angústia e solidão.
Será que o tempo está me dando à mão?
Será que o tempo está me dando tempo?

Ó Deus! O tempo está me olhando nos olhos.
A vida está me olhando nos olhos.
A morte está me olhando nos olhos.
Ai, ai! Não tenho coragem de me ver.
O meu reflexo também
está me olhando nos olhos?
Quem de mim está me olhando nos olhos?
Não consigo me ver.

O tempo está me comendo gradualmente
Como um cadáver em decomposição.
O tempo está me dando tempo?
O tempo está me dando à mão?
Mas, e eu, estou me dando à mão?
O tempo está gritando de mim para mim.

Não há vida, não há nada

Olho a vida.
Meus olhos queimam
Tudo está vivo,
Mesmo quando no agora estou morto.

Fecho os olhos
E a escuridão é salvação
Já não há mais nada.
Mas tudo está em mim.
Sou tudo e todos.
Todos estão em mim.
Mas, e eu, estou em alguém?
Talvez em alguma coisa.
Talvez em uma mariposa
De 100 anos presa em seu casulo.

Não há vida.
Não! Não há nada.
Não há eu
Não há os outros
Não há tempo
Não há morte
Tudo está morto.
Não há nada,
Porque não vejo nada.
E o que não se ver
Não existe.

Há agora apenas o que sinto
E o que sinto é o começo de tudo,
É a aurora do mundo.

Há agora apenas o Ser-aí.
O Ser-aí de mim
E das coisas.
O Ser-aí do mundo.
Do meu mundo.

Há agora apenas o sentir.
Estou vivo ou morto?
Estou pedindo socorro
Para viver ou morrer.
Enquanto escrevo este poema
Estou morno.
E Deus disse:
Vomitarei tudo que não for
Nem frio, nem quente.
E eu, no agora estou neutro
Em meu corpo.
O neutro seria o meu desconhecido?
O desconhecido é transcendente.
A vida é tudo aquilo
Que ainda não veio.

Quem sou agora?
Nesse momento o que sou?
Sou a borboleta que busca
Freneticamente libertar-se
Do seu casulo.
Enquanto escrevo voou pelo mundo.
E tudo é mundo.

O Peso de Minha Existência

Sinto o peso do passado
De meus ancestrais.
Sinto o peso das guerras santas,
Da Santa Inquisição,
Das bruxas lançadas na fogueira,
Das guerras civis, do holocausto,
Das ditaduras, dos escravos.
Sinto o peso do 11 de setembro,
Das religiões doentes,
Da ignorância humana.
Sinto o peso de ser gente.

Sinto o peso das chacinas,
Dos assassinatos de crianças,
Da morte de nossa esperança.
Sinto o peso da cegueira,
Da surdez e mudez hedionda.
De uma mórbida insensatez.
O peso da efêmera tristeza
Por não ver o outro.
Sinto o peso dos drogados,
Dos embriagados, dos mendigos,
Dos ladrões, dos assassinos,
De uma sociedade colérica e insana.
“Sinto o peso de não ser criança”.
Sinto o peso da insanidade humana.

Sinto o peso do mundo,
Das noites sem dormir,
Dos pensamentos mais profundos
Que não consigo expelir.
Sinto o peso de viver.
É tão difícil ser.

Sinto o peso de ser só,
De minha solidão,
Do meu silêncio,
E de minha impotência.
Sinto o peso de minha existência.

Sinto o peso do que sou.
Sinto o peso do amor.
Sinto o peso de minhas palavras
E de toda dor que há em minha alma.

Sinto o peso de saber que minha
Individualidade já não é só minha.

Quanto tempo ainda tenho?

Distante de tudo,
Deitado faço perguntas.
Espero obter alguma resposta.
Quando terei a resposta concreta?
Nunca! Eis o meu erro.
Tentar entender é um erro.

Quanto tempo ainda tenho?
Todo o tempo do mundo
O tempo de um moribundo.

Na escuridão dessa madrugada
Em que direção está meu olhar?
Ainda estou em meu corpo?
A minha alma chora e grita,
Meu coração pede socorro.

Quanto tempo ainda tenho?
Todo o tempo do mundo
O tempo de um moribundo.

O afeto que sinto por mim
Já não sei se é amor ou ódio.
Talvez sejam os dois.
Como amar-se e odiar-se ao
Mesmo tempo?
O amor é minha salvação
E minha solidão.

O meu corpo está doendo.
Quanto tempo ficarei perdido
Em pensamentos?
A posição do meu corpo
É a mesma de um animal morto.
O medo e a embriaguez
Dessa noite é paralisante.

Quanto tempo ainda tenho?
Todo o tempo do mundo
O tempo de um moribundo.

Estou vendo tudo. Tudo está vivo.
Assusto-me com o mais profundo de mim.
O que fazer com a razão
Quando tudo que lhe resta é sentimento?
O que fazer quando fecha
Os olhos por um tempo e em si
Ainda há o coração?

Quanto tempo ainda tenho?
Todo o tempo do mundo
O tempo de um moribundo.

Há quanto tempo estou deitado?
Já se passaram séculos, milênios,
E todas as lembranças.
Já se passaram tudo
E o que ainda há de vir.
Agora, resta-me apenas o silencio
E a dor de existir...

Quanto tempo ainda tenho?
Todo o tempo do mundo
O tempo de um moribundo.

Não sei como dar amor

Não sei como dar amor.
Às vezes fico inerte
E nunca sei o que fazer ou o que dizer.
Tudo é saudade e falta,
Meu coração às vezes
Transborda de alegria,
E meu sorriso está apenas em mim,
Ninguém ver.
E quando passa a alegria fica
Apenas a solidão de ser só.

Não sei amar
Nem mesmo como expressar.
Não sei como dizer o que sinto,
Mas o que sinto daria vida a um morto.
O que sinto salvaria o mundo.

Sinto meu corpo flutuando no universo
E tudo que vejo torna-se belo.
O amor está em meu rosto.
Não consegue ver? Não! Não consegue me ver.
Não consegue ver quem sou.
Não se ver sem amor.
Olhe em meus olhos e o brilho
Que deles transborda.
Ainda não consegue ver?
Mas vejo o amor que há em você.
Vejo muito do que há em você,
Por mais que não queira ver.
Talvez se não sentir-se com tanta força
Amaria menos,
E assim aprenderia a amar.
Não sei como aprender a amar.
Ainda não aprendi a dar amor.

Não sei como amar,
E por não saber... Amo-te.

Queria tocá-la

Queria tocá-la
Tocá-la de alguma forma
Como se toca o vento
E é tocado por ele.

Tocá-la talvez com palavras,
Com uma carta arcaica.
Tocá-la com o silêncio
Tocá-la com um olhar
Talvez com um sorriso tímido
Ou com qualquer
gesto unipessoal de quem ama.

Queria tocá-la
De alguma forma que pudesse sentir,
Que pudesse me ver além de mim.
Tocá-la com a tensão que sinto
Quando estou perto de ti,
Quando não sei o que falar,
Quando não sei como agir.

Tocá-la talvez um dia quando abraçar-me
E sentir o tremor do meu corpo,
O pulsar do meu coração,
O suspiro que por amor
Continua vivo.

Queria tocá-la
Tocá-la como se toca o nada.
Como se toca o tempo,
Como se toca tudo
E por tudo é tocado.
Tocá-la apenas sendo
E deixando-se ser.

Queria tocá-la,
Tocá-la com todo amor
Que há em mim.
Queria tocá-la,
Assim como sou tocado por ti.

Queria tocá-la
Tocá-la com o que está
Atrás das palavras.

Suicídios de mim

Sinto! Não aguento mais.
Todos em minha volta estão doentes.
Quando terei paz?
Sinto raiva de ser gente.

Hoje irei suicidar-me.
E junto comigo toda minha dor.
É tão difícil existir-se
Quando em si a apenas amor.

Sim! Sinto que vou desistir.
Meus demônios gritam dentro de mim.
Não me sinto
Não estou comigo.

Sinto! O amor está me matando.
O amor está me salvando.
O amor é o que sou
E o que sou é apenas amor.

Sinto! Irei suicidar-me.
Irei morrer como agora estou morrendo.
Mas quando será o fim dos meus suicídios?
Quando será o fim de minhas angústias?
O fim das lamúrias?

Ser ou morrer?
Morrer para viver.

Dicotomia do Ser

O que é o ser para o homem?
Ser homem?
Ser para si?
Ser para o outro homem?

Ser para ter?
Ter para ser?
Ser para ser?
Ser o quê?

Ser é uma busca?
Ser é um encontro?
Ser é o agora?
Ser é o que há de vir?
Ser é o intervalo entre ambos?

Ser para quê?
Ser para quem?
Ser é uma ideologia?
Ser uma história, uma lembrança?

Ser para a vida?
Ser para a morte?
Ser no tempo?
Ser o tempo?

Ser é o que sinto, o que vejo?
Ser em palavras, em pensamentos?
Ser o quê ou para quê?
Ser quem ou para quem?
Existe o ser?

Entre palavras

Entre palavras já não somos mais eu e você.
São vidas que transbordam
Pelo desconhecido infindo das palavras,
Pelo intervalo entre frases,
Pelos pré-pensamentos e sentimentos
Que desabrocham entre as margens.

Já não somos mais eu e você.
Somos agora o mistério fluindo
Em uma folha virgem,
Em um momento em que o sentir
É gradualmente concomitante.

Entre palavras agora somos anjos.
Somos o cume do amor.
Somos agora o mais profundo
Que há nas entrelinhas das poesias.
Somos brisas tocando o rosto do mundo,
Namorando o tempo do tempo.

Já não somos mais eu e você.
Somos agora a essência da vida
Que há muito se perdeu,
O amor que há muito morreu.
Entre palavras nos tornamos humanos.
Somos agora canções, melodias,
Rosas desabrochando, encantos,
Borboletas voando, pássaros cantando.
Somos agora a aurora, o pôr-do-sol,
O sorriso de uma criança... A esperança.
Somos o tempo beijando a vida.

O silêncio em mim

Há tantas coisas que queria dizer,
Tantos sentimentos que
Desejaria expressar.
Quantas palavras me caberiam?
O que haveria de falar?
Escrever, escrever e escrever?
Falar, falar e falar?

Há tanta dor em mim,
Tanto amor em um só coração.
Haverá palavras que expressão sentimentos?

Há palavras que choram.
Há palavras que gritam,
Outras que calam silenciosas
Nas ultimas linhas de uma poesia.
Há palavras nos gestos, no olhar,
No simples sorriso, nas lágrimas,
No silencio do outro.
Há palavras em mim e em ti.

Mas serei eu quando falar?
Serei eu quando escrever?
A palavra me libertará?
Escrever me fará esquecer?
Palavras libertam-me do pesar
Que há em existir.
Mas as palavras que falam ao te ver
Assusta-me e consome-se, pois toda
A dor do outro é a dor de mim.
E o que me consome é a liberdade de ser.

“Eu” clandestino

Eu sou um mundo de sonhos
O tesouro esquecido do dono
A vida em um minuto
O mundo em um quarto obscuro.

Eu sou o enigma do universo
O pleno amor eterno
O hermético profeta
O último grito de um poeta.

Eu sou o incógnito benévolo
O medo de um espectro.
O mendigo no banco da praça
O soldado que morreu pela pátria.

Eu sou o jogo da morte
O tempo em desordem
Um mundo a ser explorado
O sábio perdido entre escravos.

Eu sou o poeta da esquina
O escritor de um enigma
A loucura dos grandes
O fluxo de palavras constantes.
Eu sou o relicário do amor
O incipiente escritor
O alento aos pensamentos
O homem inebriado de sentimentos.

Eu sou a criança adulta e sem vida,
O judeu no campo de concentração.
Sou a mão que segura teu coração.

Eu sou o que fiz de mim,
Além do que me roubaram.

O Valor da Morte

A morte me da vida
E o valor do presente.
A morte não é morte
É vida não vivida.

A morte é puro medo,
Tempo roubado de si mesmo.
É o não tentar com medo de errar
É ficar parado e deixar a vida passar.

A morte é não amar
É sofrer pelo o que não volta mais
A morte é achar que está tudo perdido
Morre quem disser: Desisto!

A morte está em ti
Morrer nunca foi o fim.
A morte é o começo
E propagação.

A morte não é morrer para a vida
É morrer para si mesmo.
É não acreditar mais em si
E fazer da vida um erro.
A morte é acreditar na palavra impossível.
É desistir dos sonhos,
É viver no passado
E esquecer que o tempo está voando.

A morte é o conformismo
O medo de sair de casa.
É o que chamam de segurança
A morte é vida inorgânica.

A morte é o medo de viver
É o não saber morrer
A morte é vida debalde
É o “se” na lápide.

A morte é morte
E é vida.

Sem Vezes Mais

Vejo a morte de uma só vez.
E ao continuar a vê-la
já não a vejo mais.
Agora o que vejo é a vida.
A vida como nunca tinha visto antes.
A vida de que sempre estive distante.

O medo da morte me faz viver.
Amar o que nunca amei,
Porque viver me rouba a vida.
A vida degenera a vida.
E eu que sempre quis morrer,
Hoje anseio inexoravelmente
[viver.

Às vezes no breve momento
Em que me levo ao sono,
Sonho que estou morrendo.
E ao despertar sinto um latente
Regozijo por saber que
[ainda estou vivo,
Vivo de sem vezes
Sem vezes mais... Sem mais... Sem vezes.

O adiamento da vida
É a orgia da vida.
E quem se esquece de viver
Esquece também que vai morrer.
Eu que sempre estive
distante da vida, vi a morte.
Agora aprendi como se deve viver. – E
– Estou vivo! Vivo de sem vezes,
[Sem vezes mais.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sinto Falta do Que Fui

Tudo se vai um dia.
Os momentos mais belos e inesquecíveis,
As palavras de amor,
Abraços, beijos, e o que ainda não existe.

Tudo morre. É a lei da natureza.
Pessoas, animais,
e o que a pouco eram certezas.
Tenho agora um prato só na mesa,
E o que restou da solitária cadeira.

De tudo sinto saudades:
Do que você era,
De sua companhia,
E de sua amizade sincera.

Sinto saudades de quando fazíamos amor
E você sussurrava em meu ouvido
dizendo “eu te amo”.
De quando nos abraçávamos
e adormecíamos num sono profundo.
Nosso único desencontro,
já que estávamos todo o tempo juntos.
Sinto saudades de quando
nos olhávamos sem dizer uma só palavra,
De quando riamos e nos beijávamos.
Sinto ainda a angústia
de quando nos separávamos.
Não conhecíamos a palavra adeus.
Hoje não mais existe nós,
mas sim você e eu.

Sinto a dor da perda do que fomos
E do tempo que estivemos juntos,
De quando nos amávamos em segundos,
De quando tínhamos todo
o tempo do mundo.

Sinto a ausência da felicidade.
Do tempo em que éramos amantes.
Sinto agora um sentimento distante.

Sinto a falta da falta.
Não porque te perdi,
Mas porque me perdi.
Sinto falta do que fui.

Tempo de Acordar

Ao descanso dos deuses
Acordo entre os mortos,
Entre as luzes da aurora,
Entre o passado e o agora.

Entre a manhã que nasce entre as nuvens
Acordo em meio à multidão,
Em meio à solidão,
Ao despertar de um coração.

As borboletas desenham entre as árvores
A liberdade que fora roubada de mim.
É tempo de acordar
É tempo de existir.

As folhas caem ao soprar do vento.
Sua dança é o tempo,
Como um palhaço que dorme.
A brisa toca meu rosto
Com sua mão leve e suave.

O amor flui em meio
A manhã de primavera.
É tempo de colher flores
Tempo de colher morangos
Tempo de voar.
É tempo de amar,
Como todos os tempos.
É tempo...
Tempo de acordar entre os mortos.

Esperança de Amor

Uma voz do outro lado da linha.
De uma mulher?
De uma menina?
De uma tênue criança esquecida?
Não ouço a voz. Sinto-a.
É uma voz humanizada.
É a transferência
do que se chama eu.

É uma voz, nada mais.
Ah! Mas para mim
é bandeira branca,
é um grito de paz!
De uma paz diária, talvez mais.
É que esse simples
momento é tão grande
que o inexpressivo me salva.

O que ou quem te salvaria?
O que te salvaria é tão simples
que você não percebe.
E por não perceber é que perdemos
Aquilo a que chamamos de amor.

Não! Não era apenas uma voz.
Não! Também não era amor.
Era esperança de amor.
E daí? Estou feliz!

Ausência

Sempre tive medo da ausência.
Hoje percebo que na ausência
O amor torna-se mais forte.
A amizade mais verdadeira.
O desejo mais intenso.

É na ausência que realmente sentimos
O quanto alguém é tão especial.
A dor da ausência já não se pode nem
Mesmo ser chamada de dor.

Sim. Estou só,
mas a presença de tua ausência
Em minha solidão não me deixa sucumbir.
Tua ausência é o que ainda me faz existir.

Estou tentando falar

Estou tentando falar.
Estou buscando alguma
forma de como falar.
Preciso dizer qualquer coisa,
Qualquer coisa só para desabafar.

Fecho os olhos para não ver,
Como se ver fosse apenas olhar.
Queria tanto dizer,
Mas não sei como falar.
Queria não ver,
Queria esquecer,
E nunca mais relembrar.

Queria perder a memória e tudo
Que escrevo jogar fora.
Queria falar qualquer coisa.
Falar-te que...

Sabe, é tão difícil falar.
Nunca se sabe a palavra ou hora certa.

Como falar o que vejo?
Como dizer o que sinto?
Eu vejo...
Eu sinto...Não sei!
Sinto muito medo
de estar sozinho.

Ó, céus! A solidão ímpar
De mim é um inexprimível vazio.

Que inferno! Ver tudo tornou-me cego.
Sinto falta de quando era criança.
Ah, que saudade da minha
Infantil ignorância.
Sinto falta do colo materno,
Do amor puro e inconsciente.

Suplico! Não se afastes de mim.
Preciso de ti!
Não quero dar-te minha solidão,
Não quero ferir seu coração.
É que em mim a tanto amor
Que me corrói.
O amor é o melhor e pior de mim.

Ó, Deus! O que sinto?
Estou tentando, preciso, suplico.
Como falar o que sinto?
A caneta acabou a tinta,
A palavra é infinita.
Sim. Falar é difícil.
Eu grito como todos gritam
No fundo de sua solidão.

Estou tentando falar.
Mas como expressar o inexpressivo?
Tenho medo de me perder.
Tenho medo do que sinto.
Que inferno!
Palavras são apenas palavras.
Enquanto o silêncio é o que não
Deve ser dito, porque o silêncio
É o maior de todos os gritos.

Bem.
O que sinto?
O meu silêncio é o teu silêncio
Em mim vivo.

Há algum tempo me perdi

Há algum tempo me perdi.
Já não sei quem sou.
O que restou de mim?
Apenas amor?
Apenas bondade?
Apenas saudade?
Sinto falta do que fui?
Do que realmente sinto falta?
Talvez sinta falta do ódio,
do egoísmo, da raiva... Não sei.

Sinto raiva do que sou?
Sinto falta de quem está em mim
o tempo todo,
de quem não consigo alcançar,
de quem sobrevive dentro de um ser
que não sou eu.
Sinto falta de quem me dar
as mãos todos os dias,
de quem me segura para não cair,
[de um ser que não me deixa desistir.

A bondade é para os fortes,
E eu estou morrendo.
Morrendo para mim mesmo.
Seria morrer minha salvação?
Ah, como desejaria morrer
e renascer a cada novo dia.

E a coragem de ser?
E a necessidade de morrer, viver,
remorrer, reviver?
E a beleza oculta de ir vivendo o acaso,
O fluxo do inexperado,
o susto da paixão quando invade o coração,
do amor que brota como uma bela flor
e desabrocha fora da primavera,
de ir vivendo tudo aquilo que não se espera.
E a certeza da incerteza,
de que nada é para sempre,
[de ir vivendo o que for sendo?

Estou morrendo,
Como todos estão.

Há algum tempo me perdi
E continuarei a me perder.
Terei a coragem de me encontrar?
Morrer para ser... Para viver.

A Poesia é o Meu Mundo

O meu mundo é minha poesia.
Tudo o que vivo
Já está invisivelmente escrito.
Folhas nuas é a minha origem,
Faço das palavras meus entes queridos,
E sinto estranhamento em proferi-las
Em lugares ainda virgens.
Esse é meu futuro agora já vivido.

O meu mundo é minha poesia.
Minhas mãos choram de tristeza e alegria.
No fluxo das palavras
Ouço musicas distante.
A música ama a poesia – são amantes.
Amo e desamo.
É o sexo dos anjos.
A transa imortal,
Onde não existe o gozo final.

Meu mundo é belo e maravilho.
Mas, ainda assim, perigoso.
Fui o criador,
Agora tornei-me o ser criado.
Descobri o verdadeiro amor,
No qual jamais serei amado.

As palavras é meu bem maior.
Ah! Se pudesse falar das palavras.
Como dizer-te palavras?
Fala-te por mim,
Porque tu que me fará
Eternamente existir.
Tu que é minha origem,
E meus antepassados.
Tu és minha linhagem,
Meus filhos, netos e bisnetos,
A esperança em todos os fetos.

A poesia é minha vida!
Tudo o que sou e que deixei de ser.
A poesia é minha palavra jamais dita,
Mas ainda assim vivida,
A forma de me transcender,
Minha busca pelo viver.

A poesia é o amor que nunca tive,
O amor que em mim existe
E que me faz viver.
É o breve e tenro
Momento de me conhecer.

Hoje vivo em meu mundo:
Solitário... Agonizado...
Mas um mundo também de amor.
De vida... De palavras vivas.
O mundo por mim amado.
“Criei o mundo e por ele fui criado”.

Cegueira d’alma

Às vezes sou idiota
Mas agora sou apenas eu.
Parado no meio do transito
Como quem se encontra
No que se perdeu.

Serei atropelado por algum carro?
Não! Ninguém me ver.
E por não ver me atropelam,
Dilacerando-me a alma e o ser.

Continuarei a ser apenas eu?
Matam-me gradualmente.
Volto a ser idiota,
Morrendo silenciosamente.

Dia do Meu Aniversário

Hoje envelheço mais um ano
Mais um dia
Mais uma hora
Mais um intervalo entre eu e o futuro.
Hoje continuo a ser só mais
Um fragmento do mundo.

Hoje me transformo como todos os dias,
Em cada instante e momento.
Minha transmutação é o intervalo
Do que há agora e do que estar por vir.

Hoje é o dia em que tudo grita
Intensamente em minha alma.
Hoje é o envelhecimento do meu corpo
E o rejuvenescimento da alma.
Hoje espero continuar caminhando
Ao encontro de minha humanidade.

Tuas Mãos

Dê-me tua mão
Por favor! Dê-me tua mão!
Não quero apoiar-me em ti
Não te levarei comigo
Não te darei o que está em mim,
Simplesmente preciso.

Segura minhas mãos
Mas segura com amor,
E mesmo que não seja
Unicamente por amor.
É que não sei dar nome ao que sinto.
Esse sentimento que prefiro
Chamar de coisa,
uma coisa que sinto.

Dê-me tua mão!
Só para não me sentir sozinho.
Sinto medo.
Medo da vida e da morte.
Suplico! Dê-me tua mão.
Liberta-me de mim
e dessa solidão.

Dê-me tua mão!
Peço por esse amor eterno
e não por mendigá-lo.
E mesmo que não mais me ame,
ainda assim irei amar-te
com toda minha alma,
e desse amor sentirei saudades.

Dê-me tua mão!
Ah, mas não esqueça que te amo,
Não se esqueça do que fomos.

Só por essa noite não me deixa sozinho.
Só por hoje dê-me tua mão,
E com ela a lembrança do que éramos.
É que prefiro a dor da ausência
e da falta de ti que a neutralidade
dentro de mim.

Infinito silencioso das palavras

Não quero mais ver.
Ah! Como desejaria estar cego!
Quem me deu conhecimento?
Quem me deu essa forma de ver?
Que inferno! Deixe-me em paz visão.
Quem te pediu olhos para ver tudo?
Quero estar cego, como todo mundo.
Cego nem que seja por um só dia.
Ó, céus! Como seria não estar
sozinho no mundo?

Ai, ai! Se ao menos conseguisse
Chorar.
Se ao menos conseguisse
expressar o inexpressivo.
Já tentei gritar, mais o grito não sai.
Já quebrei pratos, copos e tudo mais.
Ah, mas o grito! O grito não sai.
O grito continua a ecoar
em meu infinito silêncio.
Nesse eterno infinito silencioso das palavras.

Ser Criança

Ser criança é o dom da vida.
Criança com amor de criança
Amor ingênuo e verdadeiro.

Ser criança é deixar viver,
É deixar de ser adulto,
Coexistir em seu mais
Sublime mundo e esquecer.
Viver, nada mais que viver.

Ser criança é deixar-se ser.
Criança não foge de si,
Estão sempre no meio de seus iguais,
Longe da selva dos adultos.
Vivem no além-mundo.

Ser criança é o sonho humano.
O homem é percepção
A criança imaginação
Ser criança é libertar-se
Sua lei é liberdade.

Ser criança é realidade.
O homem é mentira
A criança é verdade.

Ser criança é simplicidade
O homem é o ter
A criança é o ser
Ser criança é inocência
O homem é o medo
A criança o recomeço.

Ser criança é momento de felicidade.
O homem é passado e futuro
A criança é presente
Ser criança é ser poeta
A criança é a mais sublime poesia.

Quando o Corpo Reflete a Alma

A escura e suja barba
Revela os anos de solidão.
O gesto com o dedo mostra
A impotência e o medo de falar.
Talvez o medo de ninguém escutar.
A boca entreaberta, como se quisesse
Dizer algo ou balbuciar.
O olhar tácito e insano
De tantas noites na rua.
O tremor do corpo, que o acompanha
Mesmo quando já não há mais frio.

O olhar...
O que diz o olhar?
Não sei! Sinto apenas.
O que sinto? Sinto talvez por
Medo de sentir.
Sinto o que não se diz.
Sinto o que meu olhar não mostra,
O que minhas palavras não expressam.
O que consigo ver?
Eis a alma refletindo em seu corpo.

A vida está gritando.
A vida suplica vida.
A morte está à espreita
E segura suas mãos.
Já não há ninguém.
Já não há vida.
Já não há morte.
Já não há nada.

A alma está gritando.
Céus! Ninguém ver?
Por favor, olhem! Sintam!
Não conseguem sentir?
Meu Deus! Não conseguem escutar?
O silêncio também grita.

Oh! Estou só...
Sim! Estou só.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Quero a Coragem de Quem Ama

Deixaste-me sozinho.
Agora está de volta,
De volta em volta.
Porque não me deixou sozinho?
Não. Não quero ficar só.

Teus olhos de inverno me queima
E os teus beijos são os meus.

A solidão me alimenta
como a sombra de um breve
olhar que te condena,
Já que meus olhos podem sentir e exprimir.

Chegou o momento de entregar-se.
Tenho tanto medo de entregar-me.
Por quê?
Porque as pessoas temem tanto
Em entregar-se?

O céu azul me escondia
E a escuridão silente do meu quarto
Era ensurdecedora, minha única companhia.
Não sofria, não era feliz. Vivia.
Senti sua falta, essa falta que é só minha,
E ninguém pode roubá-la.

Agora, em meus pensamentos estou feliz.
Sempre amei você, unicamente.
E não o que você não
Conseguia controlar – sua mente.

E todos que me julga quero
Que vá para o inferno,
Ou então me deixe ir.
O que vocês sabem além de mentir?
Ouviram? Além de mentir.
Vocês são cegos e surdos.
O que seus olhos não enxergam
E seus ouvidos não escutam,
Eu caminho na estrada não percorrida.
Estarei sempre onde vocês
Já mais vão estar,
Por medo, ódio e preconceito.

Em mim está “o verdadeiro amor”.
Digam-me! E o que vocês amam?
Ah, conseguem amar só quem lhes faz feliz?
Ó, Deus! Sinto-me abandonado em forma de amor.
Estarei entre aspas no livro dos que amam.
Covardes! Egoístas!
Acham que o que sentem é amor?
Essa é a paixão mais ínfima.

Não serei um moribundo
Desse amor fúnebre, adulterado.
Não quero viver nessa errante ilusão.
Não quero enganar-me,
Muito menos ser enganado.
Não quero esse amor mendigado.

Quero a dor, a angústia
E o sofrimento de quem amo.
Quero a coragem de quem ama,
Pois para amar é preciso coragem,
E não viver no outro apenas felicidades.

Aceitação

Amar essa dor interna,
Transparente, descrente.
Amar essa solidão latente
De ser gente.

Amar essa tristeza infinda.
Essa vida sem vida.
Amar essa angústia
E essa insônia inerente.

Amar o que tudo ver
E que não consegue esquecer.
Amar esse tenro amor
Que nunca desabrochou.

Amar essa alegria triste
De alguém que menti e finge.
Amar essa coisa que não sei dizer,
Que só me resta escrever.

Amar esse ser.
Nada mais que um ser.
Amar esse amor
Que não me deixa viver.

Amar esse amor que...
Amar esse amor...
Amar o que sou.

Amar

Amar é tortura-se, consumir-se as mínguas
quando não se há reciprocidade?
E o amor sem medidas,
torna-se perigoso ao coração e a alma?

Existe alguma forma que se possa
amar e não sofrer?

Há quem busca perfeição no amor,
mas não seria sua imperfeição
que o torna perfeito?
Há os que não amam por medo.
Mal o sabem o quão doloroso
é não amar.

Amar é dar ao outro tudo de si?
Há quem queira dar tudo de si?
E há quem queira tudo do outro?
Há a solidão a dois e o egoísmo
vital de proteger a si e o outro.

Amar é buscar no outro
o que não encontra em si mesmo?
O que esperar de quem se ama?
Nada! Deixa o outro ser
e seja quem você é.

O amor é o mistério dos mistérios.
Ama-se o oculto e a neutralidade.
Ama-se detalhes
e o que há de mais profundo.
Ama-se o inexpressivo.
Ama-se o silêncio vivo.
Ama-se o olhar
e o brilho dos olhos.
Ama-se as lágrimas
e o belo sorriso.
Ama-se a ausência
e a falta do outro.
Ama-se a saudade.

Amar é dar ao outro
o que deseja para si.
Amar é cuidar.
Amar é tocar o intocável.
O amor não se expressa por palavras.
O amor é indizívelAmar é __________________ ...

Cegueira d’alma

Às vezes sou idiota
Mas agora sou apenas eu.
Parado no meio do transito
Como quem se encontra
No que se perdeu.

Serei atropelado por algum carro?
Não! Ninguém me ver.
E por não ver me atropelam,
Dilacerando-me a alma e o ser.

Continuarei a ser apenas eu?
Matam-me gradualmente.
Volto a ser idiota,
Morrendo silenciosamente.

Somos o mundo

Toque meu rosto com leveza.
Sinta as lágrimas de minha alma,
O sangue que brota de minhas palavras.
É o sangue dos deuses,
O néctar da vida... Palavras vivas.

Sinta o pulsar do meu coração
E olhe no mais profundo dos meus olhos.
Veja, você é meu reflexo.
VEJA! Você está dentro de mim.
Quem sou eu? Quem é ti?
Somos o universo em multimatérias,
Vários corações pulsando
Vida ao mesmo tempo,
Somos água, fogo, ar e vento.

Não! Não toque mais em mim.
Não toque em nada que respira,
Nem mesmo no abstrato.
Não tire o ar de minhas palavras vivas.
Suportarei só... Morrerei só.
E em terra putrefará meus átomos,
Talvez cremados e jogados no mar,
Talvez as cinzas levadas ao vento.
Serei o que sempre fui
Desde o começo dos tempos.

Toque meu rosto e sinta.
Sinta o ar que respira
E que também já foi meu.
Não ver? O mundo sou eu.
Somos o mundo que...
Eu... Eu... Queria dizer que...
Ai, ai! Viver é... Estou tão cansado.

Eterno Regozijo

Hoje li um belo livro.
Sentir raiva e medo,
Vontade de fazer justiça.
Mas sentir também amor,
Perdão e compaixão.
Refleti sobre a minha e outras vidas
Sentir uma conexão do meu espírito
E o do escritor.

Ler sempre me levou além.
Além de minha própria visão
Além da imaginação.
Ah! A dimensão das palavras!
Ler é a expressão da alma.
Ler nos leva a interioridade humana,
Onde o espírito sai do corpo
E passeia no desconhecido.
Sim, hoje li um belo livro.
Sonhei, chorei e rir,
Vivi onde nunca existir.

Ler sempre me levou onde nunca estive.
Ler me leva ao mistério do mundo,
Ao amor mais profundo
Onde o material me leva ao imaterial,
Um passeio na beatitude existencial.

Um livro é um mundo,
Uma vida,
Um livro nunca termina.
Ler é sempre o começo.
Ler é o passado o presente e o futuro
Vivido em um único instante,
Distante de si e de tudo.

Hoje li um belo livro,
Um eterno regozijo!

Saudades do Futuro

Sinto saudades da minha família,
De quando estávamos tão próximos
Como estamos agora.
Sinto saudades dos meus melhores amigos.
De nossas viagens, passeios,
De nossas conversas,
E de quando não tínhamos o que conversar.
Ah! Como sinto falta daquele silêncio confuso.

Sinto saudades dos meus
Colegas de trabalho.
Saudades dos meus filhos,
De quando eram crianças.
Sinto saudades da minha amada.
Da primeira vez que fizemos amor,
E do estranhamento que tínhamos
Ao nos conhecer todos os dias.
Sinto saudades dos momentos
Que vivemos juntos, e que ainda vivemos.

Sinto saudades da forma que nos amávamos,
E que ainda nos amamos.
Sinto saudades do meu amor clandestino.
Sinto saudades do amor de todos,
Saudades de todos que estão comigo.
Sinto saudades do que eram.
Sinto saudades do futuro.
Sinto saudades da saudade que sentiria.

Hora de Descansar (A um amigo efêmero)

Minha respiração está estertorante.

Estou partindo amigos para não mais voltar
A morte se tornará uma dádiva
Proferir palavras já não basta
Deixo apenas meu olhar.
Chegou o momento da falta – de mais amar.

Estou sedento por viver
Mas minha vida já está insípida.
Os meus dias é uma senda
Para outros uma posteridade.
A vocês deixo apenas a saudade.

Minhas lágrimas já não são mais de dor,
E sim de amor.
Um amor mais forte que a própria morte.

A vida é perfeitamente imperfeita.
Não consigo mais lutar,
Viver o indesejável
É um pesado fardo.
Viver às vezes exige muito de mim.
Sim. Chegou à hora de descansar.

Minha voz precisa que seus ouvidos a busque.
Estou aos poucos mais fraco,
Perdendo o controle
Da minha própria máquina,
Intrínseco a uma cadeira de rodas.

Até quando irei viver essa
Morosidade agonizante?
Ah! Como desejaria dormir
E não mais acordar,
Descansar em paz.
E assim, não mais precisarei
Mentir que estou feliz.

Viva o Dia da Loucura

Há um insano mundo em que vivo.
Que não fujo
Que não minto.
Há um encanto nesse mundo
Que eu amo
Que eu vivo
E que estou sempre faminto.

De encanto e desencantos
Fui feito um grande homem.
Um homem louco.
Assim me chamam,
Por não ser mais um entre os outros.

Sim. Na multidão sou transcendente.
Em silêncio me faço.
Não grito. Porque se gritar...
Ah, se gritar... Irão me escutar?

Sempre foi assim.
Os loucos são temidos,
E por serem loucos nunca morrem,
Estarão para sempre vivos.

Viva o dia da loucura!
Viva a insanidade dos sábios!
Viva também a coragem
De não temer a verdade.
Viva o enterro dos temerosos,
Que há muito já estão mortos.
Pois vivem no senso comum
Onde são apenas mais um.

Um dia disseram-me:
– Não faça isso, é loucura.
Nesse momento comecei a rir
E já não sabia se o que sentia
[era raiva ou pena.
E gritei em sentença:
– Viva minha loucura.

A borboleta e o vaga-lume

Os vaga-lumes são estrelas voadoras.
Voam e piscam no céu estrelado,
Iluminando a noite triste,
Trazendo paz e felicidade onde não existe.

Já não diferem mais das estrelas,
São verdadeiras borboletas
Onde em cada bater de asas o tempo para,
E temos toda a eternidade em um segundo.
Sim. São borboletas e vaga-lumes
O embelezamento do mundo.

Eu que falava em vaga-lumes
Agora já falo de borboletas,
Elas que são verdadeiras estrelas
Coloridas e reluzentes como vaga-lumes.

Uma bela borboleta liberta-se do seu casulo.
Voa pela primeira vez ao mundo.
Em meus olhos vejo a liberdade,
Vejo a vida transmutando-se em mim.

Agora volto a falar de vaga-lumes,
Mas não esquecendo as borboletas.
Na verdade já não sei mais o que falar
Se de vaga-lumes ou borboletas.
Ah, se a borboleta e o vaga-lume
Fosse um só!

Rosas

Presenteaste-me com rosas.
Mas, porque não arrancou-lhe
os espinhos?
Elas ferem meu coração
e todo o sangue escorre
torrencialmente
como sentimentos
que se dissipam no caminho.

Sempre foram rosas
que separaram os amantes.
Flores e espinhos – juntos,
mas tão distantes.

A rosa é o símbolo
do dualismo do amor.
Tão belo e ao mesmo tempo perigoso.
Mas porque viver, se não por amor?

A rosa é o fim e o começo,
Tudo que ainda não conheço.
A rosa é ambiguidade
E acima de tudo a veracidade.
De tudo há um pouco:
Amor e ódio, verdades e mentiras.

A rosa é a vida e a morte,
Presente e futuro.
São elas que enfeitam nosso túmulo.
A rosa é a crua
e pura realidade da vida.

No Limiar da Morte

No limiar da morte percebo
Que não vivi.
Tudo está perdido,
O pôr-do-sol anuncia o meu fim.
O fim do tempo inorgânico, rejeitado,
Esquecido em si.
A lamúria do amor inconcebível,
Do sonho inibido.

Ah! Como desejaria um último diálogo,
Já que os prazeres físicos
Não mais existem.
Proferir as últimas palavras,
Chorar... Escutar a última canção,
Enfim, morrer em paz.

Não me deixe só,
Tenho medo da escuridão.
Suplico! Não me deixe só.
Tenho medo do que posso causar
A mim mesmo.
Desejo apenas um pouco de atenção
Antes de fechar os olhos.
Não me deixe sozinho.

Infância Passada

Sinto falta da minha infância.
Ah! Como sinto saudades
Daquele tempo.
Não tínhamos computadores,
Chats da internet,
Celulares, ou muito
Menos vídeo cassete.
Uma época que tínhamos
Tempo para ler livros
E que éramos apenas amigos.

Sim. Foi uma boa infância.
Tínhamos mais tempo,
Brincávamos com os amigos,
De futebol, soltar pipas e outros.
Lembro-me das meninas
Que brincavam de boneca,
Ao invés de venderem seu corpo.
Tenho ainda esperança
De um dia voltarmos a ser criança.

Éramos jovens,
Tínhamos deveres e liberdade.
Sucessos e fracassos,
E aprendíamos a lidar
Com cada um deles.
Não éramos tão conturbados.

Sentíamos mais saudade.
Mas hoje temos a internet
E milhões de celulares.
A falta já não é tão árdua.
Ah! Se soubessem que continua a ser falta.

Uma época em que as músicas
Não tinham letras de bunda.
Uma época em que as músicas
Era um grito ávido
Em busca de um mundo
Melhor e mais digno,
De uma vida justa.

Estou velho e cansado.
Sinto falta de todos e de tudo.
Oh, céus! O futuro que sonhava
Agora me faz sentir
Falta do passado.

O que fizeram com as crianças,
Jovens e adultos?
Desejaria tanto que eles tivessem
Vivido em nossa época,
E não nesse presente em crise.
Talvez o meu passado
Para eles seja chato,
Mas eles não imaginam
O quanto éramos felizes!

O que não cabe mais em mim

Não sei o que escrever.
O que agora quero dizer?
Dizer o que ninguém ver?
Expressar o que ninguém sentiu?
Desabafar... Desabrochar...

Sim! Estou com raiva,
Com pudor, com dor,
Com uma tristeza indizível.
Não estou dizendo o que deveria
Ser dito.

Meu grito ecoaria em todo o mundo
E acordaria todos os deuses.
Até mesmo os que ainda
Não foram criados.
Meu grito é mudo,
Arcaico, demudado.
Meu grito é o grito
Dos olhos que me olham,
Das vidas sem vida,
Das angústias infindas.

Bem! O que quero dizer?
O que desejo expelir?
O que já não cabe mais em mim:

Mares revoltos,
Vulcão em fúria,
Rios torrenciais,
Tempestades de lágrimas,
Guerras sentimentais...

O que não cabe mais em mim?
Amor... Desamor... Amor.

Um poema para ti

Foram tantos dias tão só.
Senti muito tua falta
Senti muito a falta de mim.
Nesses dias não existir,
Tantas vezes pensei em desistir.
Não por não mais amar-te.
É que me perdi por muito tempo,
O tempo que não vivi.
Hoje estamos novamente juntos,
Nesse dia tão comum, tão especial.

Ó Deus! Se soubesse como expressar
Cada momento que passo com você.
O que sinto é inexpressivo,
E enquanto escrevo procuro
Alguma forma de tocar no que sinto.

Então escrevo a ti esse poema,
Mas com poucas palavras,
Porque se não nelas me perco.
O amor está em teu sorriso,
Em teu olhar,
Em cada gesto ao nos tocar.

O amor está no momento
Em que vivemos hoje.
No momento em que conversamos,
Que brincamos, e mesmo quando
Ficamos calados, tímidos,
Vivendo aquele momento infinito.
O amor é isso, é aquilo... O amor é tudo.

Enfim, escrevo a ti esse poema,
Que é tão pequeno e tão grande,
Tão simples e tão constante.
Um poema de poucas palavras,
Mas repleto de amor de corpo e alma.
Um poema para ti.
Um poema para existir.

Se (Epitáfio)

Se tivesse sonhado
Se tivesse amado
Se tivesse tentado
Se tivesse buscado

Se tivesse ido embora
Se tivesse ficado
Se tivesse acabado
Se tivesse reencontrado

Se não tivesse calado
Se tivesse falado
Se tivesse lutado
Se não tivesse desistido

Se não tivesse tido medo
Se tivesse dito eu te amo
Se tivesse vivido o antagônico
Se não tivesse desistido do sonho

Se não tivesse “SE”...

O Voo Preciso

Estou sentado no jardim
com um olhar distante.
Aviões passam acima
da minha cabeça.
Tão longe de casa!
Saudades? Não!
Às vezes precisamos ficar
distantes de quem amamos.

Sabe! Tudo é corrosivo.
O próprio amor em excesso
é perigoso, não minto.
Não é do amor que estou fugindo,
mas da morte do amor.
Necessito desse amor ainda vivo.

Estou sozinho!
Mas nunca tão bem acompanhado.
É tão bom sonhar dormindo,
mas melhor ainda acordado.

Fugi da morte!
Perdi o medo!
Cansei da segurança e do conformismo.
Ah! Nunca me senti tão vivo.

Estou sentado no jardim
com um olhar distante.
O olhar que me mantém vivo!

Não me julguem por amar

Por amar me julguem por amar.
Ah, se soubessem que no amor que ainda
vivo é que encontro um sentido.

Não me julguem por amar!
Olhem o mendigo da esquina,
O alcoólatra esquecido.
Vejam o povo morrendo de fome,
pela ganância humana e seu egoísmo,
A comédia do senado,
A criança que tapa buracos.

Vejam a violência e a prostituição,
As drogas que usam esperando
acabar com a depressão.
Vejam a falta de humanização,
A intolerância humana,
O que fizeram com nossa nação.

Vejam a solidão nos olhos dos adultos,
A desesperança nos olhos dos jovens,
Vejam quanto sofrimento e quanta morte
por guerras religiosas e poder.
Vejam quanta desordem.
Vejam a mentira da nossa história,
O ultrajante fardo de quem trabalha
a vida inteira e é esquecido.

Volto a dizer: “Não me julguem por amar”.
Amar é a minha salvação
da vida e da morte.

Quem Mendiga Amor

Quem mendiga amor é um
Pobre de espírito.
Amor não se compra,
Nem se vende.
Amor nem mesmo se dar ou se recebe,
Amor flui naturalmente.

Quem mendiga amor não ama,
Mal o sabe que já deixou de amar.
Já não beija mais o outro
Já não é a mesma coisa ao abraçar.
Só um abraça.
Mal percebe que só há um corpo.
E que a alma está em outro lugar.
Quem mendiga amor se perde.

Quem mendiga amor esquece-se de si
Fica cego, surdo e mudo.
É tanto a necessidade do outro
Que quer consumi-lo por inteiro.
Já não há mais liberdade,
Já o não o deixa mais ser.
Ó, Deus! E saber que tudo
É por medo de perder.

O Mundo Cabe em Minhas Mãos

O mundo cabe em minhas mãos.
O sentimento, os sonhos,
Todos cabem em minhas mãos.
Tão pequena e frágil,
Presa a uma caneta de lágrimas.
Quanta ilusão em mãos imaginárias.

A música, a arte, a ciência,
Todos cabem em minhas mãos.
Minhas mãos ultrapassam
Meu coração.
Em minhas mãos estão meus sonhos,
Meus sentimentos e minha vida,
Meus amores e ódios,
Minha verdade perdida.
Nela está minha liberdade
Minha infância crescida.

O medo, a solidão,
Todos cabem em minhas mãos.
O amor e o ódio
Seguro como um arpão.
Sou forte, mas às vezes
As lágrimas são inevitáveis.
Há em mim um dúctil paradoxo.
É nele que encontro o que nunca vi
E tudo está em ti e não em mim.

A vida e a morte
Cabem em minhas mãos.
Com elas crio meu além-mundo.
Brinco de viver ou de morrer.
É nelas que encontro
o sentido de viver.

A fome, a dor, o sofrimento,
Todos cabem em minhas mãos.
Essa tornou-se minha
Latente grandeza.
E a única coisa que
Consigo segurar é uma caneta.

Que um dia minhas palavras
Ganhem vida.

Imortalidade de botequim

Escrevo e sinto o sentimento universal,
individualmente universal.
Enquanto na terra dos ignorantes
felizes queria estar,
e enfim, não mais naufragar.

Estou estupefato de tanta
agonia e solidão.
E no meu quarto intrínseco
sempre a mesma e triste canção.

Um escritor dialético, invadido
por uma tristeza solitária
em pleno coração poético.
Suicídios de amor, paixão,
sonhos... Da vida!

Serei um ser imortal?
Em vida vivi... Melancólico, inorgânico.
Imortalidade de botequim.
Ignorância bem aventurada
roubaram de mim.
E enfim, vos digo: – Não sou feliz.

sábado, 12 de janeiro de 2013

O Último Dia


O último amor
O último beijo
O último abraço
O último olhar
O último sorriso
A última lágrima
As últimas palavras
Ah! E as que nunca foram ditas?
O último luar
O último pôr-do-sol
A última ausência
O último medo
O último desejo
A última música
A última poesia
A última fantasia
A última brisa no rosto
A última estação
A última esperança
A última lembrança
A última perda
A última hora
O último minuto
O último momento
A hora de dizer: Adeus!
A hora de partir
A última emoção
A última solidão
O silêncio...
Ah! O último dia!
A origem do amor!

O Último Grito

Há palavras que me escondem
E outras que me expressam.
Já outras para mim mesmo
Continua e continuará a ser um mistério.

De palavras me criei,
Mesmo que eu morra ainda existirei.
Palavras são eternas,
Para ser ditas deve-se saber a hora certa.

Em palavras me acho,
Escondo-me, me amo,
Ainda que às vezes me perca, ou sinta medo,
Não me assusto, pois de palavras fui feito.

Palavras! A ti desejo a eternidade,
A origem de tudo,
Os amores mais belos,
E os sentimentos mais profundos.

Nas palavras estão meus desejos mais ocultos,
Meus sentimentos mais íntimos,
Minhas saudades e lembranças,
São nelas que ainda encontro esperança.

Nas palavras deixo minha vida
E minha morte.
Deixo meu último grito
Ecoando eternamente ao mundo.

Soledade

Não sei o que estou sentindo agora.
Há um vazio em meu peito.
Não sei se é tristeza ou o que é,
Talvez seja por não ter o que sentir,
Se é que o nada se senti.

Não tenho um amigo para desabafar
E nem ao menos quero falar.
Tenho medo e angústia
E uma coisa que não sei explicar.
Uma coisa muda,
Que cala-se por não saber o que falar.

Falar me assusta,
Porque não conheço os ouvidos
E se sabem escutar.
Tenho a boca para comer e beijar,
Porque falar é um erro,
Um desconcerto de tudo que há.
E enfim, me calo,
Deixo apenas meu olhar.

Quem diria o que estou sentindo agora?
Quem poderia me ajudar?
Tudo o que desejo agora é o silencio
E alguém para poder amar.
Alguém que não precise das palavras,
Que saiba apenas escutar,
E que não precisa dizer o que senti.
Que apenas viva.
Que possa unicamente amar!

No momento tudo é uma ausência
Que aperta meu peito,
Um vazio paralisante.
Se ao menos tivesse algumas lágrimas restantes.
Oh, céus! Amar alguém é pedir demais?

Enfim, resta-me apenas
[uma caneta e uma folha virgem,
E uma soledade.
Minha solidão é uma forma de felicidade.
Sim. Sei que alguns vão me entender e outros não,
E daí, às vezes nem eu me entendo.
Então escrevo, mesmo que ninguém entenda,
E mesmo que não mude nada,
E mesmo que ninguém me ajude.
Não escrevo para ninguém.
Não escrevo para me salvar.
Só preciso desabafar...

Segundos Eternos

Teus olhos, oh Deus!
Teu olhar me pertence.
O amor tornou-me transparente.
Meus olhos atingem os teus
Um beijo, um abraço,
Um breve adeus.
Encanto de um
Instante exultante,
Inexoravelmente distante.

Não. Não me recordo de tua fisionomia.
Lembro-me do magno
Momento de alegria.
Não sentirei saudades
De uma mulher desconhecida.
Sentirei saudades do célebre
E tênue momento em que amei a vida.

E eu que não acreditava no amor
No entanto sua veemência essência
Fizeste-me viver
1.000 anos em segundos.
Adeus! Amei-o enquanto durou
Eterno, poético, efêmero amor.

Cansado

Cansado, é como me sinto.
Um cansaço indizível.
Cansaço, nada mais que isso.
Não é cansaço de nada ou dos outros.
Cansado, só isso.
Cansado, como quem não
Nunca diz o que senti.
Cansado, como quem diz,
Quem desabrocha, mas não a ninguém.
Cansado, simplesmente.
Cansado, como há quem nunca descansa.
Cansaço... De... Cansado... Céus! Viver...

Hora do Adeus

Sentia-me triste.
Eram tempos difíceis
Tempo de dizer adeus.
Nunca tínhamos brigado
Foi à primeira vez.
Não vi em seus olhos tristeza
ou medo de me perder.
Em mim queimou sua frieza
que jamais vou esquecer.

De cansado gritei.
O grito de liberdade
O que amei... Amei.
Fico agora com a saudade
De tudo que tenho
E que amo.
Sentirei saudade futura.
Resta-me agora a solidão,
A esperança, e as velhas músicas.

Faz algum tempo que nos separamos,
Mas ainda penso nesse momento.
Porque um dia nos amamos.
Na verdade o que sentia
Não era raiva,
E sim medo.
Não de não vê-la mais,
Mas dela não se importar.

O amor está morrendo

O amor é o único ato racional,
Enquanto a tantos tornando-o irreal.
Sinto ânsia de vômito,
Não aguento mais,
Dói-me a forma com que muitos amam.

Que amor é esse? O amor egoísta?
E a infidelidade... [risos]... Oh, que amor!
O amor grita agonizante:
– Socorro! Socorro! Socorro!
Estou morrendo como todos os outros.

Assassinamos o amor,
Vivemos em um mundo sem cor.
Temos o último sopro do tempo,
Resta-nos agora apenas o lamento.

Acordem! Estamos brincando de amar.
O Amor tornou-se indigno, errante.
O amor está morrendo!

Leve-me daqui,
Leve-me para outro mundo,
Leve-me para outra vida,
Que essa há muito já se tornou extinta.

Queria anunciar minha última palavra,
Porque também estou morrendo.
Sim. Não aguento mais,
Estou no tempo errado,
Deixe-me morrer em paz.
Restam-me apenas alguns segundos,
Tenho direito ao último grito.

Ressaca Emocional

Estou estupefato,
Colérico, irado,
Amedrontado,
Emocionalmente cansado.

Sinto-me frio, solitário,
Inorgânico, angustiado,
Perplexo, confuso.
Sinto falta de tudo.

Sinto às vezes medo.
Medo de ausentar-me para a vida,
Medo de perder-me por muito tempo,
De morrer e não renascer a tempo.

Quando chega a noite assusto-me,
Percebo que perdi mais um dia.
O tempo passa,
E com ele mais uma ausência de alegria.

Mais um dia, como todos os outros.
Sinto falta de alguém,
Sinto falta de mim,
E medo de um dia não coexistir.

Queria não saber,
Porque saber me corrói,
Saber me rouba a vida,
E deixa-me apenas a palavra dita.

Às vezes finjo,
Como todos fingem,
Tentando enganar-se
Que estão felizes.

Não estou feliz,
Como também não estou triste,
É apenas uma ressaca emocional,
Onde as palavras me salva do árduo
E demudado mundo real.

Por que te amastes?

Por que te amastes agora,
Quando tudo que ouço é meu coração?
Por que te amastes agora
Nesse ímpeto vazão?

Por que olhar-te tão de perto
Com trêmulo desejo?
Por que tocar-te com ar incerto
De quem ama em segredo?

Por que amastes teu semblante,
Teu corpo, teu sorriso?
Por que amastes cada instante
Em que encontro teu olhar límpido?

Por que amastes a ti?
Por que me amo em ti?
Amo-te pela paz que traz em mim?

A paz que vai e volta...
Sempre que você vai e volta.

Na liberdade de minha alma

Na liberdade de minha alma
Que está o ato de criar.
Liberto mim dos grilhões da realidade
Tempestuosa e trágica.

Liberto-me do mundo,
Do mundo egoísta e imundo,
Do mundo adulto.

Na liberdade de minha alma
Que flui minhas fantasias,
Minha criação divina,
Minhas poesias.

Nessa liberdade encontra-se
Também minha solidão.
A liberdade de ser só.
Só em mim e nas coisas.

Na liberdade de minha alma
Que encontro o desconhecido de mim.
E o meu desconhecido é vida explodindo
Na atmosfera.
A liberdade de minha alma
É êxtase dando vida as palavras.

Amo Minha Liberdade

Deixe-me em paz.
Queria-me como vocês?
Apaixonados?
Não. Não serei mais um a ser condenado.

Não me digam o que devo fazer,
Odeio que me digam o que devo fazer.
Não serei modelo dessa sociedade doente.
Vocês se enganam,
Ainda assim continuam contentes.

Não me importa o que pensam,
São todos ignorantes.
Pensaram que iriam me ter
Em algum momento?
Esqueçam, sou demasiado o bastante
Aos seus ínfimos sentimentos.

Porque desejaria esse séquito
de possessão?
Não aprisionarei minha alma
e meu coração.
Amo minha liberdade,
enquanto vocês amam
unicamente sua vaidade.
Covardes! Ouviram? COVARDES!

Não quero esse “amor egocêntrico”.
Prefiro minha solitária liberdade.
Ah! Como viverei sozinho?
Não estou vivendo sozinho.
Vivo com o melhor
e o pior de mim.
Também tenho meu amor e ódio,
quando não me amo, me odeio.
Mas sou honesto comigo mesmo.
Não tenho a mentira como
forma de felicidade

Desejaria ser cego como vocês,
Porque a verdade me dói.

O Sonho de Amar

Estou amando.
Desejo sempre te amar
E cada vez mais te amar,
Quando te encontrar.

Estou amando
Um jardim de rosas.
Rosas sem espinhos,
Rosas que irei dar-te
Quando te encontrar.

Estou amando.
Um mundo desconhecido,
Há explorar o infinito.
O infinito do seu amor
Quando te encontrar.

Estou amando
Como sempre te amei
E vou cada vez mais te amar,
Ainda que no sono da morte
Quando não mais respirar.

Estou amando.
E por toda a eternidade
Irei te amar.
Estou sonhando,
E jamais deixarei de sonhar.

Estou amando
O sonho de amar.

Escrever é Nascer-se Para Vida

A poesia é o que me faz sentir-se vivo.
É o meu poder sobre o mundo.
É a minha forma de viver
No misterioso e profundo.
Quando escrevo fujo do que sou.
Cada palavra é um sopro de vida,
Onde tudo o que sinto é amor.

Escrever é como nascer para a vida.
Quando escrevo meu espírito passeia,
Sinto-me a voar como um pássaro,
Com a alegria do meu primeiro voou,
E de volta em volta me faço.
Dão-me uma folha e logo
Começo a escrever.
Mal sabem que me deram uma vida,
E assim, em palavras me deixo ser.

Vivo num instante o passado,
O presente e o futuro,
Vivo a eternidade em cada letra e segundo.
Às vezes escrevo o que nunca vivi.
Escrevo o mais secreto de mim
E entrego meu destino ao destino.

Já Não Sei Mais Amar

Já não sei mais amar.
Ou seria pior: não quero?
Deixar de amar fez de mim
Uma pessoa estável.
Sinto-me mais seguro,
Sofro menos,
Não choro mais no escuro.

Deixar de amar foi uma forma
De aliviar o sofrimento.
Não. Não estou feliz.
Também não estou triste.
É que esse medo de amar me faz
Coagir a mim mesmo.

No momento estou morto,
Há pouco morri,
E agora tento re-morrer para... Para viver.

Já não amo mais!
Já não sei mais amar,
Já não sei mais viver,
Já não sinto mais dor,
Já não tenho mais ninguém
para esquecer ou sentir falta,
Nem mesmo alguém
Para lembrar ou sentir saudades.
Enfim, não tenho mais motivos para viver.
Preciso como nunca re-morrer.

Ah! Se soubessem o quanto preciso
Desesperadamente de amor.

O Grito do Silêncio

O meu silêncio é um grito ecoando ao mundo.
Não se assustem por não me escutar,
É um grito mudo.
Grito com palavras, com um simples olhar,
Com um sorriso triste,
Com esse profundo amor que em mim existe.

Não! Vocês jamais vão me escutar.
São todos cegos e surdos,
Vocês nem mesmo sabem o que é amar.
Ó Deus! A cegueira e a surdez do mundo
Está me matando.
O que fizeram com o amor?
Nossos corações estão habitados por dor,
Cobertos de lágrimas de tantas noites solitárias.

Há muito grito, e continuarei a gritar,
Mesmo que ninguém escute,
Mesmo que um dia nada mude.
É que essa é minha única forma de desabrochar,
Não morrerei por me calar.

Esse é o grito do silêncio.
Do silêncio do amor.

Aceitação

Amar essa dor interna,
Transparente, descrente.
Amar essa solidão latente
De ser gente.

Amar essa tristeza infinda.
Essa vida sem vida.
Amar essa angústia
E essa insônia inerente.

Amar o que tudo ver
E que não consegue esquecer.
Amar esse tenro amor
Que nunca desabrochou.

Amar essa alegria triste
De alguém que menti e finge.
Amar essa coisa que não sei dizer,
Que só me resta escrever.

Amar esse ser.
Nada mais que um ser.
Amar esse amor
Que não me deixa viver.

Amar esse amor que...
Amar esse amor...
Amar o que sou.

No tempo em que amava

No tempo em que amava,
Eu era feliz? Não me lembro.
O tempo passava,
A bela ignorância era um alento.
Inconsciência. Foi levada ao
Mar da consciência armada.
Ah! Como me ferem os pensamentos.

Duros dias.
Sofrer era comum. Ser feliz uma sorte.
Ainda assim sinto falta.
Por quê? Não sei.
Talvez esteja me amando pouco.

No tempo em que amava;
Dentro de mim existia esperança,
Enquanto hoje não passa
De uma simples palavra.
Lembranças, lembranças,
E mais lembranças.

Sinto saudades.
Saudades de sentir
O que não mais sinto.
Sentir você em mim.
Por muito tempo,
Um minuto.
Tão perto,
Apenas 1.000 km de distancia.
Só isso e nada mais,
Simplesmente saudades.

No tempo em que amava
A vida não era inorgânica.
A morte descansava
Estávamos todos vivos.
Vivos em mim,
Vivos em meus pensamentos.

Do que a morte adiantou? Liberdade.
Morrer, dormir, coexistir.
Desaprendi o que nunca aprendi.
É tão fácil amar e mentir.

No tempo em que amava
O coração não pensava.
Acabou! Não amo mais.
Meu coração agora pensa
E tem medo de se ferir.
É hora de descansar.

Agora, meu Deus! O que fui...
Sei apenas o que sou
Sim. Insensível,
Foi no que me transformei.
Egoísta? O amor é egoísta.
Amava-me em você.

Apenas Ouvidos

Falo, falo e você apenas escuta.
Obrigado! Nem todos são só ouvidos.
Você às vezes abre a boca,
mas nunca fala uma só palavra.
Sempre com gestos incólumes,
Mas um bom ouvinte.
Mais uma vez, obrigado!
É muito difícil encontrar respeito,
bondade e atenção,
E encontro em você, que é apenas ouvido.
Infelizmente quero que você
saiba que não pode me ajudar,
mas obrigado por sempre me ouvir.

Famílias Modernas

Há tantos caminhos esquecidos por todos.
Sonhos perdidos por medos errantes.
O sentimento que deveria ser inabalável
Transformou-se em comerciante.
As mulheres ainda choram,
Os homens continuam a perder-se
No tempo e no rude trabalho.

Onde estão as crianças? No mundo virtual.
Estamos vivendo na selva do real,
Onde a depressão tornou-se tão normal.

Assim são as famílias modernas.
Não mais se amam, não mais se veem,
simplesmente casais.
Não mais companheiros, amigos,
E sim filhos, nada mais.
Chegou o tempo em que
O amor não tem tempo.

Dois Amantes

As pessoas se amam cruelmente
e por assim se amarem não se amam de verdade.
Amam seu âmago
e a reciprocidade.
Narcisistas disfarçados em ampla montagem.

O que são dois amantes?
São dois inimigos fugindo de si,
vivendo em amplo egoísmo.
Não se conhecem e não se amam,
vivem a mentira que fizeram de si.

Um dia disseram-me que sou doente
Por não amar como amam, unicamente.
Quem disse que não amo?
Amo o amor como amor.
Amo todas as mulheres do mundo.
Amo como se ama na hora da morte.
Amo a alma do amor.

Todos os dias há lágrimas.
Os amantes choram, brigam e voltam.
Perdoam-se por uma necessidade inebriante.
Nada mais que uma noite de sexo excitante.
Shakespeare agora em seu tumulo chora.
Não existem mais Romeu e Julieta.
Talvez nunca chegaram a existir.
E agora no céu Nietzsche rir.

Ser

Estou cansado de ser,
Cansado de todos os porquês.
Tropeçando em pensamentos
Vou vivendo e morrendo.
Em pensamentos vou sendo.
Sendo o quê?
O que há de ser?
Tudo é. Tudo foi e será.
Eu, agora sou?
Por perguntar, já não mais sou.

Estou cansado de ser.
Juro! Já não aguento mais.
Ser está me matando.
Posso escolher não pensar, não sentir?
Posso escolher não ser?
Ser... [suspiros]...
Céus! Ser...
SER...

Poesia

A poesia é a alma do poeta
dentro do leitor.
A poesia é o sentimento universal.
A poesia tem o peso da verdade.

Do que a poesia precisa para existir?
O poeta precisa do sofrimento,
Da solidão, do mistério,
do silêncio, do amor.
Ele vive o dualismo da vida,
do ser dentro de si.

A poesia não precisa entendê-la,
apenas senti-la.
É como a arte,
onde a beleza não está em si,
mas em ti.

A poesia carrega em si o inexpressivo
A poesia é um tênue,
imenso e eterno livro.
A poesia tem a força
de mudar uma vida
É a eterna palavra viva.

Fora de Mim

Imagino fazer um poema
Não, não imagino, penso.
Não, também não penso,
Tento, mas não consigo.
Pego outra folha virgem,
Começo a rabiscar com palavras.

Quero expressar algo,
Mas falta-me à palavra certa.
Quero falar de tudo um pouco,
Quero a leveza em meu corpo,
E paz na alma.
Quero expelir
O que está em mim,
Não quero dar ao outro,
É que preciso descansar um pouco.

Sim. Continuarei a sentir,
E a carregar esse árduo pesar
Que é o conhecimento,
Mas é que estar sozinho no mundo
Me da vontade de desistir.

Enfim, só me restam as palavras.
Sei que talvez seja sempre assim,
Mas quando as leio
Sinto-me fora de mim.
E isso já basta.

Felicidade Ingênua

Estou feliz!
Estou tão feliz que me invejo.
Estou tão feliz que me tranquei no quarto
Só para que ninguém roubasse
Minha felicidade.
Felicidade essa tão ingênua
Que para outros não seria felicidade.
E daí? Estou feliz.
É a única coisa que importa, nada mais.
Sinto-me tão em paz.

Esse é um dia de salvação,
Uma esperança de vida,
Um dia de libertação,
Um dia tão comum como outro qualquer.
Um dia eternamente especial.

Estou tão feliz que sentirei saudades.
Saudades do dia em que esqueci de mim.

Solidão Clandestina

Quem me amará ainda?
Quem segurará minhas mãos?
Quem me dará o abraço que salvará minha vida?
Quem me libertará da solidão?
Seguro as mãos de todo mundo,
mas ninguém segura minhas mãos.

Há muito seguro tuas mãos e te salvo.
Há muito estou em perigo e você não percebe.
Há muito te abraço para não deixar-te sentir-se só.
Há muito sinto-me só e você também não percebe.
Há muito estou sozinho no mundo,
Sinto-me mais só na multidão
que sozinho num quarto escuro.

Sim. Você não percebe. Ninguém percebe.
Ah, mas te perdoo, assim como às vezes
tenho que perdoar a mim mesmo.

Quem me dará amor de graça?
Quem segurará minhas mãos por amor
e não por carência de amor?
Quem me salvará de mim?
Quem dará o simples sorriso que tanto preciso?
Há muito preciso de um abraço;
Há muito preciso de um único sorriso;
Há muito preciso de carinho;
Há muito preciso de amor;
E há muito você não percebe.
Ah! Mas ninguém percebe!