Há tantos entes vagando
Com suas almas incógnitas de si mesmo.
Nas ruas muitos becos e esquinas
Dando vários caminhos e incertezas.
Há tanto medo e desprezo em seus olhos.
Fútil e medíocre são suas ciências baratas,
Não há só uma que não me mata.
Odeio quem diz: Essa é a única verdade.
Sim! A verdade mata ao que chamamos de verdade.
As ciências são ciências em si mesmas.
E eu, quem sou?
Quem ou o que me dirá quem sou?
Há tanta gente nas praças e ruas gritando
E suplicando por um pedaço de vida.
Há tantas etiquetas e marcas ao invés de nomes.
Sou normal? Não sei. Mas tenho todo
[o direito de não sê-lo.
Pessoas iguais e normais roubam-me a vida.
Sim! Sei que todos têm o direito de serem
iguais e normais,
Assim como tenho o direito de não ser.
Ai, ai! Ser diferente é sufocante,
Há um grande preço a se pagar,
E essa angústia existencial... Ah, essa angústia.
Há tantos mendigando amor.
Enjôo-me só de pensar em tal
Fraqueza e egoísmo alheio.
O amor platônico é tão só,
Que de tão só é verdadeiro.
Céus! Volto a falar de verdade,
Como se a soubesse, como se soubesse
[o que é o amor. O que é o amor?
Melhor voltar ao silêncio de mim,
E tentar parar de pensar no que penso agora.
Há tantos mortos nas ruas
acelerando seus carros de luxo,
Gritando na bolsa de valores,
Brigando no trânsito, nos jogos de futebol.
Há tantos jovens-velhos formando-se nas universidades.
[SÃO TODOS IGUAIS! FORMAS DE FORMATURA!
Ouviram? FORMAS DE FORMATURA!
E eu, aqui, em meu quarto, só.
Só, como todos estão sós.
Acho que a solidão gosta de mim.
Mas só estou eu e ti, e todos.
A solidão é uma questão de escolha,
Principalmente para aqueles que
Tem medo de se ferir.
Não tenho medo de me ferir, pois a própria
[felicidade, às vezes, me fere.
A felicidade é uma causalidade
E o sofrimento é a angústia opcional
De deixar-se ser.
Não tenho medo.
Não tenho medo do espontâneo.
Há tantas pessoas rindo e fingindo
E em seus olhos uma tristeza indizível.
Há tantas lágrimas não vistas,
Tantos amores não vividos.
Há tantos estranhos nas famílias,
Tantas crianças esquecidas.
A infância depois de tanto tempo
Volta a tornar-se adulta.
Há tantos nas ruas e praças
[com suas máscaras.
E eu, aqui, só, escrevendo.
Não quero mudar nada.
NADA jamais mudou nada.
Sou só mais um preguiçoso de plantão,
Sentado e escrevendo em vão.
Escrevendo em vão?
Estou tentando pegar o vento com as mãos...
Só eu sou capaz disso, e só.
O sono veio, enfim, como a primavera
E suas flores e borboletas.
Enfim, agora posso dormir e fingir não existir.
Agora posso descansar minha alma
E meu coração enquanto estou morto.
Amanhã ao renascer não serei mais quem sou.
Amanhã serei outro que nascerá de mim.
Não sei até quando continuarei a sê-lo.
Renasço a cada instante, a cada novo dia...
Se não morresse constantemente
[morreria para sempre.
Não aguentaria ser sempre eu,
Ser sempre o mesmo.
Morrer é minha suprema salvação de ser.
Há tantos fazendo sexo no escuro.
Há tantos sentindo a falta de alguém.
E eu, aqui, só, escrevendo.
E eu, aqui, só... E a ausência.
Ah, o amor, essa raposa que passeia
Nos dias de sol e chuva.
O arco-íris abraça o rio como uma aliança,
Como um casal recém casado,
Mas logo em seguida como uma nuvem
Desaparece pelo ávido sopro do vento.
Ah, o amor, essa coisa que nos pega se surpresa.
Ah, o amor...
Enfim, o sono veio, como uma borboleta
Avisando a aurora da primavera
Depois de uma tempestade.
Agora posso dormir e fingir não existir.
Existir é apenas estar vivo?
Estou tentando pegar o vento com as mãos...
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